Livro de Lamentações — Autoria e Data

ESTUDOS BIBLICOS
A tradição que Jeremias compôs esses poemas recua até à posição e ao título do livro na Septuaginta, onde é introduzido mediante as palavras: “E sucedeu, após Israel ter sido levado cativo, e Jerusalém ter ficado desolada, que Jeremias se assentou a chorar, e lamentou com esta lamentação por causa de Jerusalém e disse...”. Também é asseverado no Targum Siríaco e no Talmude (Baba Bathra) que: “Jeremias escreveu seu próprio livro, Reis, e Lamentações”. Em 2Cr 35.25 é feita referência às lamentações desse profeta por causa da morte do rei Josias, e ali se acha escrito que tal lamentação foi registrada e ficou como “estatuto em Israel”; com isso cfr. Lm 4.20 e Lm 2.6. Porém, nosso presente livro gira não tanto em torno da morte de um rei como em torno da destruição de uma cidade, e Lm 4.20 com igual justiça poderia referir-se a Zedequias, a despeito de sua falta de dignidade (cfr. o sentimento em 2Sm 1.14,21). Não obstante, na qualidade de profeta chorão (ver Jr 9.1; Jr 14.17-22; Jr 15.10-18, etc.), Jeremias bem poderia ser concebido como autor, igualmente, do livro de Lamentações, não fosse o fato de existirem certas dificuldades para que se aceite essa opinião. O estilo é muito mais elaborado e artificial que o do próprio livro de Jeremias e, nos capítulos 2 e 4, é mais parecido com o estilo de Ezequiel. O capítulo 3 faz lembrar Sl 119 e 143. A atitude para com os poderes estrangeiros, subentendida em Lm 4.17, certamente não é a do “colaboracionista” Jeremias e não reflete a própria experiência do profeta.

Por conseguinte, muitos consideram que o autor do livro de Lamentações tenha sido um contemporâneo mais jovem de Jeremias, o qual, à semelhança dele, fora testemunha ocular das entristecedoras calamidades que sobrevieram a Jerusalém por ocasião da captura efetuada pelos exércitos de Babilônia em 587-586 a.C. Outros consideram os capítulos 2 e 4 como obra de uma testemunha ocular (note-se a preocupação do escritor pelo destino das crianças, em Lm 2.11-12,19-20; Lm 4.4-10), cerca de 580 a.C., aos quais foram então adicionados, talvez originados em fontes diferentes, o lamento nacional do capítulo primeiro, o lamento pessoal do capítulo 3, e a oração do capítulo 5. A data desse material pode ser fixada em cerca de 540 a.C. Alguns, porém, preferem datar a coleção inteira como pertencente a período bem posterior, fazendo o livro referir-se ao cerco de Jerusalém, em 170-168 a.C., por Antíoco Epifânio, ou mesmo em 63 a.C., por Pompeu; porém, isso é altamente improvável. Em favor da data tradicional que é o período do exílio temos a nota de desânimo, de princípio ao fim do livro, que sugere um tempo antes do levantamento de Ciro, o persa. Há também o fato que esse período particular da história da Babilônia é notório por seus hinos fúnebres em memória de cidades caídas. Existem inscrições cuneiformes nas quais “a filha de...” é exortada a lamentar sua sorte (cfr. Lm 2.1). Essa técnica, portanto, pode ter sido aprendida pelos judeus, no exílio.