Livro de Deuteronômio — Escritor


Escritor do Livro de Deuteronômio

Escritor do Livro de Deuteronômio  



ESCRITOR DO LIVRO DE DEUTERONÔMIO

Consta que Moisés “declarou” a lei (Dt 1.5) e a escreveu num livro, que foi colocado ao lado da arca e entregue aos levitas para o guardarem (Dt 31.9,26). As tradições judaica e samaritana são unânimes em atribuir a autoria do livro a Moisés, confirmada num passo de Ne 8.1. Quanto aos textos que encontramos em Josué a apoiar a mesma idéia, são em número demasiado grande e andam tão ligados ao contexto geral que dificilmente os poderemos considerar como inserções posteriores. Por outro lado, a teoria dos documentos, avançada no início deste século, afirmou categoricamente que o Deuteronômio fora escrito por um profeta desconhecido, pouco antes do ano 621 A.C., data da reforma levada a cabo por Josias (2Rs 22-23). Acrescentou-se ainda que foi escrito com a finalidade de instaurar essa reforma e, em particular, de centralizar o Culto em Jerusalém, ao passo que até então o Culto de Jeová nos “lugares altos” (bamoth) era considerado perfeitamente legítimo.

A ausência absoluta de qualquer alusão a estes bamoth, na legislação dos caps. 12-26 ou no discurso inicial (Dt 12.2), e a ordem para levantar um altar no monte Ebal (Dt 27.5) tornaram-se obstáculos sérios à formação daquela teoria, e um grande número de comentadores liberais começaram a tender para uma data posterior ao exílio. Outros ainda levam a compilação do livro aos últimos dias de Ezequias e alguns ao reinado de Davi. Mas os argumentos aduzidos em favor de tão diferentes hipóteses contradizem-se e anulam-se uns aos outros. Por isso, a tendência atual é de dar maior reconhecimento à origem mosaica do livro do Deuteronômio, pelo menos na quase totalidade das suas páginas.

De muito valor a confirmar esta posição é a própria evidência interna. O leitor sente-se, por assim dizer, a tomar parte ativa na travessia do ribeiro de Zerede (Dt 2.13), na estada no deserto de Quedemote (Dt 2.26), na estrada de Basã e, por fim, no vale, defronte de Bete-Peor (Dt 3.29).

As reminiscências de Moisés interpõem-se com inesperada rapidez nos seus discursos (Dt 9.22) e até mesmo na transmissão das leis (Dt 24.9). Assim, deparamos imediatamente com os seus próprios pensamentos, emoções e orações.

Tal como vimos nos restantes livros, manifesta-se em múltiplos aspectos o caráter de Moisés: era ardente (Êx 2.12-13) e exaltado (Dt 9.21 e segs.), era benévolo e carinhoso (Dt 10.12-22). Os efeitos da sua esmerada educação estão à vista, nas qualidades com que se evidenciou como chefe e como escritor (cfr. At 7.22). Vejamos como com tanta perícia sabe combinar a doutrina com a descrição da paisagem; realçar os aspectos principais, sem desprezar o pormenor; servir-se dos dados da experiência, sem contudo deixar de falar ao coração; finalmente, apurar o estilo quer no verso, quer na prosa. Como dedicado servo do Senhor (Dt 34.5), constantemente lhe vemos nos lábios o nome de Jeová. Enfim, todas as suas qualidades de espírito que revelou em Êxodo e em Números, aqui se encontram reproduzidas.