Evangelho de Mateus — Gênero Literário

EVANGELHO DE MATEUS, ESTUDO BIBLICOS, TEOLOGICOS
A comparação com o evangelho de Marcos faz aparecer de forma especial as características de Mateus:

Em vários lugares Mateus registra as perícopes de forma mais abreviada do que Marcos. Isso é evidente, por exemplo, no relato sobre a morte de João Batista (Mt 17.14-21 / Mc 9.14-29). A questão é se isso é o resultado de uma revisão do evangelho de Marcos, ou se Marcos detalhou o relato mais resumido de Mateus. Ou será que os dois relatos foram escritos sem dependência um do outro mas a partir de uma outra base comum? A situação atual das pesquisas não permite uma conclusão segura.

A característica mais importante do evangelho de Mateus é a seqüência de discursos, que terminam sempre com palavras semelhantes no seu conteúdo: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, …” (7.28; 11.1; 13.53; 19.1; 26.1). Isso dá a impressão de que o autor reuniu os discursos de Jesus em seqüências temáticas. Essa impressão é reforçada pelo fato de que Lucas reproduz esses mesmos discursos de Jesus, só que em outros contextos. Para Mateus esses discursos de Jesus eram tão importantes, que ele atribuiu peso especial a eles ao relatar sermões interligados entre si por um tema comum.

A estrutura deste evangelho demonstra que Mateus deu valor superior ao ensino de Jesus do que Marcos. No entanto, ele não ignora os diálogos de Jesus com os seus conterrâneos, os judeus, nem os milagres de Jesus. Assim como Marcos, ele também os registra. Mas a marca especial de Mateus é o ensino de Jesus.

Salta aos olhos que Mateus pressupõe entre os seus leitores um certo conhecimento da situação em que se passam os eventos do seu evangelho. Ele não explica costumes, tradições e expressões idiomáticas dos judeus, como por exemplo o costume de lavar as mãos (Mt 15.2 / Mc 7.2s), os filactérios que eram usados no braço (Mt 23.5), as franjas nos cantos das vestes (fios e cordões em azul e branco que deviam lembrá-los dos mandamentos da lei: Mt 23.5). Ele registra expressões tão vívidas de Jesus como “coais o mosquito e engolis o camelo” (Mt 23.24) e “túmulos caiados” (Mt 23.27). Às vezes ele até usa expressões aramaicas transliteradas para o grego, como por exemplo raka, que significa tolo, idiota (Mt 5.22) ou korbanan, que é tesouro do templo (Mt 27.6).

A questão do divórcio é formulada como os rabinos da época costumavam formulá-la: “É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?” (Mt 19.3). A resposta de Jesus é dada de forma semelhante: “Quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra, comete adultério” (Mt 19.9).

Nessa dependência tão forte da religiosidade judaica, constatamos que a validade da lei não foi interrompida (Mt 5.19; 23.3). Até a forma de expressão é definida por essa dependência. Em vez de falar do reino de Deus (como Marcos e Lucas) Mateus fala do reino dos céus (veja as parábolas sobre o reino dos céus). Marcos só cita o “pai que está nos céus” uma vez, enquanto Mateus fala dele 15 vezes (Mt 6.9; 7.11; 10.32s e outros).

O que mais chama a atenção neste primeiro evangelho, além das seqüências de discursos de Jesus, são as assim chamadas citações reflexivas. Nelas são mencionados acontecimentos da vida de Jesus na sua relação com o AT e as suas promessas (Mt 1.22s / Is 7.14; Mt 2.6s / Mq 5.1,3; Mt 2.15 / Os 11.1; Mt 2.17s / Jr 31.15; Mt 3.3; Is 40.3; Mt 4.14-16 / Is 8.22—9.1; Mt 8.17 / Is 53.4; Mt 12.17-21 / Is 42.1-4,9; Mt 13.35 / Sl 78.2; Mt 21.4 / Is 62.11; Zc 9.9; Mt 27.9s / Zc 11.13; Jr 18.2s). É evidente que Mateus quer demonstrar nessas citações que em Jesus se cumpriram as promessas messiânicas do AT: ele é o Messias de Israel.