Carta aos Romanos — Ocasião da Escrita

Ocasião da Escrita da Carta aos Romanos

Ocasião da Escrita 

da Carta aos Romanos


Por que Paulo teria escrito à igreja de Roma, visto como nem ele nem qualquer dos seus companheiros de trabalho a havia fundado, nem ele a visitara antes? A resposta a esta pergunta envolve a questão da forma da epístola. É ela um tratado teológico, ou simplesmente uma carta ocasionada por circunstâncias da carreira de Paulo? Pode ser, de algum modo, uma e outra coisa, mas o ponto é se o apóstolo quis, por iniciativa própria, expor o evangelho que pregava, ou se tomou da pena para escrever uma carta ditada por problemas iminentes. Há quem pense que Paulo sentia estarem contados seus dias, pelo que desejava deixar à posteridade uma declaração definitiva daquilo que pregava. Admite-se que a doutrina do apóstolo, em seus dias, foi mal compreendida, sendo atacada, nunca deixando de ter críticos (especialmente nas fileiras do Judaísmo), não havendo sido jamais apresentada de uma maneira sistemática. Sugere-se, portanto, que Romanos é o documento do testamento final do grande apóstolo dos gentios. Além disso, argumenta-se que a Igreja de Roma era a depositária que convinha deste documento oficial, autorizado. A forma lógica e teológica da epístola, que é a mais sistemática, mais raciocinada e mais doutrinária de quantas cartas Paulo escreveu, não oferece base para a teoria formal. Mas que Romanos é um tratado de teologia, é dizer mais do que os fatos demandam. Notem-se os seguintes argumentos contrários a esta hipótese de ser um elaborado manifesto de teologia paulina.

Há várias indicações na epístola de que Paulo se dirige a uma comunidade cristã de então, levado por circunstâncias que deram realidade a esta carta. Não se justifica mesmo a idéia de que o apóstolo sentia “escaparem-se as areias do tempo” e estar sua carreira prestes a terminar, de modo que fosse necessário deixar seu sistema de teologia à posteridade. Pelo contrário, quando ele escreveu, seus olhos fitavam o futuro de novo tentame missionário.

Será que, em qualquer caso, Romanos apresenta o ensino completo do apóstolo? Não há, nas outras epístolas que escreveu, mais de sua teologia, a que não dera ocasião imediata aquilo que deu lugar a Romanos?

O propósito que Paulo teve em escrever está claramente expresso na carta, e ele não teve razão de ocultar quaisquer veleidades teológicas. Escreveu para dar a entender sua real intenção de visitar os cristãos de Roma (ver Rm 1.10-13), de modo que repartisse com eles, como apóstolo de Jesus Cristo, “algum dom espiritual” (cfr. Rm 15.29). Como o cap. 16 revela, aproveita-se o mais possível de suas relações de amizade. Declara-lhes também que sua ida a Roma faz parte de um plano mais vasto (ver Rm 15.15-24). Tanto quanto lhe foi possível, completou a evangelização dos gentios na direção de leste; agora quer empreender nova aventura missionária no oeste. Escreve-lhes para conseguir a cooperação deles nesse plano, uma vez que Roma é um verdadeiro centro estratégico e sua comunidade cristã é um grupo influente naquele sentido. Toda a parte doutrinária da epístola foi escrita com este mesmo propósito, a fim de que a Igreja ali pudesse alcançar a grandeza da graça divina e a amplitude da misericórdia de Deus, tão admirável e tão envolvente, que a evangelização, pela parte que lhe tocava (e a eles também), era absolutamente imperiosa.