Comentário de John Gill: Gênesis 3:1

Comentário de John Gill: Gênesis 3:1 Gênesis 3:1 Ora, a serpente era mais sutil do que qualquer besta do campo, que o Senhor Deus tinha feito,.... Muitos exemplos são dados da sutileza das serpentes, em esconder suas cabeças quando são atacadas, de se enrolarem, fecharem os ouvidos aos sons dos encantadores, em remover as suas peles, de se camuflarem na areia, e outras coisas do gênero; mas por essas coisas ela não parece ser mais sutil do que o restante de qualquer outra criatura, o que quer que seja na criação original; particularmente, o lobo ultrapassa grandemente isso: as palavras podem ser traduzidas, “essa serpente”; essa serpente em particular, do qual tanto se fala depois; “ou a serpente tornou-se” (t), ou “feita mais sutil”, ou seja, não naturalmente, mas através de satanás estando nela, e usando-a de uma forma sutil, com o objetivo de se encaixar em seus propósitos, e atingir seu objetivo: pois embora uma serpente real, e não meramente algo com a forma de tal, seja aqui mencionado, como é claro desse relato, e da maldição posteriormente proferida sobre ela; ainda assim não essa apenas, mas como possessa e usada por satanás como um instrumento para a realização de seus propósitos, como é evidente pelo fato dela ter a faculdade da fala, e o uso de raciocínio, empregado de uma forma muito astuta e sofista: nem é racional supor que a natureza humana, no auge de sua glória e excelência, deva ser iludida e seduzida por uma criatura tão inferior a ela, além disso, as Escrituras atribuem sempre a sedução do homem ao diabo; que, por ele ter agido de uma forma enganosa e pela serpente, sendo chamado de serpente, e antiga serpente, assim como satanás, o diabo, 2Co 11:3. O Targum de Jonatã restringe essa sutileza a iniquidade, parafraseando as palavras “mas a serpente era sábia para a iniquidade.” Alguns escritores judaicos (u) interpretam a passagem da nudez da serpente, tomando a palavra no sentido que é usada em Gên. 2:25 e a vertem, “mais nua do que o restante das bestas do campo”, o restante tendo roupas, e outras coisas, mas essa nenhuma; e assim pode ser mais harmonioso com Eva, sendo nesse respeito como ela mesma; mas é geralmente interpretada da sutileza. Desde o início a serpente tem se tornado objeto de adoração. Taautus, ou o Egípcio Thoth, foi o primeiro que atribuiu deidade a natureza do dragão, e das serpentes; e depois dele os egípcios e os fenícios: o deus egípcios Cneph era uma serpente com cabeça de falcão; e uma serpente para os fenícios era um demônio bom: o que os levou a ter tal veneração por esse animal era devido a sua abundância de espíritos, sua natureza ardente, a sua rapidez, as suas várias formas na qual ela fazia uso, sua longa vida (w), e assim Ferecides (x) fala de uma divindade chamada Ophioneus; ; e que também afirma (y) que esse era o príncipe dos demônios lançado dos céus por Júpiter; e Herodotos (z) faz menção de serpentes sagradas sobre Thebes; Aelianus (a) de dragões sagrados; e Justino, o mártir, diz (b) que a serpente para os gentios era símbolo de tudo que era considerado deuses por eles, e eles eram pintados como tais; e aonde quer que as serpentes fossem pintadas, de acordo com Persius (c); era um indicação plena de que era um lugar sagrado. As serpentes eram sagradas para muitas das deidades gentílicas, que eram adoradas ou em suas formas, ou de uma forma real (d); tudo isso parece indicar que a sua origem veio do fato do diabo ter feito uso de uma serpente para enganar nossos primeiros pais.

E ele disse a mulher;… estando ela sozinha, da qual ele se aproveitou; não a serpente, mas satanás nela; assim como o anjo falou por meio da jumenta de Balaão; pois nós não devemos imaginar como Filo, Josefo, Aben Ezra, e outros, de que os animais em seus estados originais, tinham a faculdade da fala, e cuja língua Eva compreendia: é muito provável que bons anjos aparecessem no paraíso aos nossos primeiros pais, em uma forma ou outra, e conversassem com eles; podia ser em uma forma humana, em uma forma de serpente voadora, que era muito brilhante, e essa sorte chamava-se Seraph, Num. 21:6, portanto os anjos podiam ter o nome de serafins, como alguns tinham pensando; de forma que não seria de toda surpresa para Eva ouvir uma serpente falar, sendo o que ela estivesse acostumada a ouvir, e podia achar que fosse um anjo bom em tal forma, que tinha vindo trazer-lhe uma mensagem de Deus, e para conversar com eles para seu próprio bem, e da qual lhe disse:

É realmente assim que Deus disse, que não deveis comer de nenhuma árvore do jardim? Ou “de qualquer árvore” (e); tão ambiguamente ele fala a fim de reprovar a bondade divina, e trazer discrença sobre a mesma. A conversa é abrupta; e, como observa Kimchi (f) e conjectura mais na conversa por dizer; certamente Deus vos odeia, pois embora sejais maiores do que o resto das criaturas, ele não proveu nenhuma excelência superior para vós, e especialmente visto que ele tinha dito, “não deveis comer”, etc. Ou como outros, levando em consideração de que eles estavam nus, Gên 2:25, ele observa de que era algo impróprio do qual eles deveriam se envergonhar; sim, também era injusto a proibição deles comerem da árvore do que é bom e do que é mal: ele poderia, é sugerido, primeiro se esforçar para persuadir a mulher, de que era indecente para ela, e seu marido, estarem nus; e que por eles não estarem cientes disso, era prova da deficiência no conhecimento deles, e que havia um árvore no jardim, de que se eles comessem dele, lhes daria tal conhecimento, e, portanto, Deus os havia proibido, para mantê-los na ignorância: mas ele parece colocar essa pergunta a fim de lançar uma dúvida sobre o assunto, de que se, de fato, existia tal proibição, e quão maravilhoso deveria ser, não acreditando como sendo verdade; sendo, como ele teria, contrário as perfeições de Deus, a sua bondade e liberalidade, e de sua profissão de um respeito particular: portanto, o Targum de Onkelos o traduz, “de uma verdade”, e o de Jonatã, “é verdade?” certamente não pode ser verdade, de que um Deus de tamanha bondade pudesse vos negar tamanho benefício, ou vos restringir de tal felicidade; ele jamais poderia ser vosso amigo vos privando disso.


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Notas
(t) היה "factus est", Schmidt.
(u) Tikkune Zohar, correto. 59. fol. 96. 1.
(w) Philo Byblius, apud Euseb. Praepar. Evangel. l. 1. c. 10. p. 41.
(x) Apud, Euseb. ib.
(y) Apud L. Vivem em Aug. de Civ. Dei, l. 4. c. 11.
(z) Euterpe sive, l. 2. c. 74.
(a) De Animal l. 11. c. 2, 17.
(b) Apolog. 2. p. 71.
(c) "Pinge duos angues pueri, sacer est locus." Satyr. 1.
(d) Veja mais sobre isso em um sermão meu chamado A Cabeça da Serpente esmagada, &c.
(e) מכל עץ "ex ulla arbore", Piscator.
(f) Sepher Shoresh em voce אף.