Exposição da Epístola aos Efésios 2:11-12


1. JUDEUS E GENTIOS — 2.11,12

2:11 διο μνημονευετε οτι υμεις ποτε τα εθνη εν σαρκι οι λεγομενοι ακροβυστια υπο της λεγομενης περιτομης εν σαρκι χειροποιητου 2:12 οτι ητε εν τω καιρω εκεινω χωρις χριστου απηλλοτριωμενοι της πολιτειας του ισραηλ και ξενοι των διαθηκων της επαγγελιας ελπιδα μη εχοντες και αθεοι εν τω κοσμω


Nesses dois versículos, Paulo contrasta a situação espiritual entre dois povos (Rm 3.9,10,22). Ele mostra a condição dos gentios sem Deus (pagãos), lembra aos gentios crentes a sua condição anterior à nova vida e destaca sete aspectos da sua vida paga no passado:

• "Gentios na carne" — v. 11
• "Chamados incircuncisão" — v. 11
• "Estáveis sem Cristo" — v. 12
• "Separados da comunidade de Israel" — v. 12
• "Estranhos aos concertos da promessa" — v. 12
• "Não tendo esperança" — v. 12
• "Sem Deus no mundo" — v. 12

Esse era o estado espiritual dos gentios antes de conhecerem o Evangelho. Para que não se esquecessem desse fato, Paulo os convidou a se recordarem de que em outros tempos eles não pertenciam ao povo de Deus.

"Gentios na carne" — Essa expressão se refere ao fato de eles não serem israelitas. Os efésios eram pagãos, e a expressão "na carne" aqui se refere à circuncisão física que eles não tinham. Era o sinal físico através de cirurgia feita no membro viril de todo macho israelita, para distingui-lo como parte do povo de Deus (Gn 17.9-14). Entretanto, a circuncisão era um sinal especificamente para os judeus e que os distinguia dos demais povos da terra.

"Chamados incircuncisão" — Era um termo depreciativo usado pelos judeus contra os gentios. Paulo, delicada e claramente, os desaprova mostrando-lhes que a "circuncisão feita pela mão dos homens" se torna vã para receber a graça de Deus. Mostra-lhes que a verdadeira "circuncisão" não é feita por mãos humanas, mas espirituais (Rm 2.25-29).

"Estáveis sem Cristo" — Essa parte inicial do versículo 12 é a continuação do verso 11, que mostra o estado anterior dos gentios em relação aos privilégios dos judeus e em relação ao próprio Cristo. Nos primórdios da igreja, os judeus cristãos, ainda presos a determinadas tradições judaicas, queriam monopolizar seu direito sobre Cristo. Entretanto, o apóstolo Paulo desfaz essa idéia de exclusivismo dos judeus sobre o direito da bênção da salvação.

A tradução mais correta dessa frase no original grego é "separados de Cristo", idéia que facilita a compreensão da frase no seu contexto. Note-se que Paulo se preocupa em explicar o fato de que o privilégio de ter a Cristo não se restringe aos judeus, pois, embora os gentios não tivessem conhecimento anterior sobre "os concertos da promessa" em relação a Cristo, isto não dava nenhum privilégio aos judeus sobre a bênção da salvação. Na verdade, o sentido mais amplo da expressão "estáveis sem Cristo" refere-se aos não convertidos a Cristo. Porém, o propósito universal da missão de Cristo foi o de "pregar o evangelho a toda criatura" (Mc 16.15).

"Separados da comunidade de Israel" — Diz respeito ao passado dos gentios que nunca haviam tido o privilégio de estar sob a religião de Jeová. No Antigo Testamento, havia um pacto entre Deus e o povo de Israel de que fosse estabelecido um governo teocrático, isto é, um governo direto de Deus sobre o povo. Os que não eram judeus recebiam a designação de gentios (estrangeiros). Nos vários pactos de Deus com Israel, os gentios não foram incluídos, por isso eram "estranhos aos concertos" (v. 12). A maioria dos concertos divinos com Israel visava o futuro Messias, o Salvador (Rm 9.4). Havia a promessa do Salvador que viria (primeiro advento), pelo qual Israel sempre esperou e ainda espera, porque não o reconheceu na sua primeira vinda. A essas promessas (concertos) os gentios "eram estranhos", isto é, não se importavam nem queriam conhecer.

"Estranhos aos concertos da promessa" — A palavra "estranhos", no original grego, aparece como "estrangeiros". O sentido da frase indica que "os concertos" foram feitos entre Deus e Israel. Todo israelita sabia disso e ufanava-se desse privilégio — de ser "o povo escolhido" dentre as nações. Existem alguns concertos conhecidos na Bíblia, mas citaremos apenas dois principais: o concerto com Abraão e o concerto com Moisés. O sentido da frase "estranhos aos concertos" deve ser entendido levando-se em consideração o fato de que tanto o "concerto com Abraão" quanto o "concerto com Moisés" tiveram uma conotação irrestrita. Ainda que, de modo direto, "os concertos" refiram-se aos judeus, o alcance deles, de modo indireto, abrange os gentios. No "concerto com Abraão" a promessa diz que todas as nações seriam abençoadas (Gn 12.1-3).

No "concerto com Moisés", as leis morais têm até hoje uma conotação universal (Êx 20). Os gentios eram estranhos em relação à promessa da vinda de Cristo em carne e desconheciam o privilégio de poderem participar das bênçãos advindas de Cristo como Salvador dos homens. Mas Israel, como nação, rejeitou a Cristo, o que propiciou a salvação dos gentios, dos quais Paulo se declara apóstolo (Ef 3.1,2).

"Não tendo esperança" — Essa expressão retrata o estado espiritual dos gentios antes de conhecerem a Cristo. Que esperança podiam ter eles, se havia "uma parede de separação" (Ef 2.14) entre esses dois povos? Não tinham esperança porque desconheciam "a promessa".

"Sem Deus no mundo" — São palavras que retratam o estado espiritual dos gentios. Viviam no mundo de Deus, mas não o conheciam nem o tinham. As palavras "sem Deus" indicam a forma ateísta em que viviam os gentios. Três sentidos explicam essa forma de ateísmo. Um é não crer em Deus, isto é, ser ateu; outro é ser ímpio ou pecador irreverente (Rm 1.28); e o outro sentido é estar entregue aos ímpetos do pecado, isto é, fora da esfera da graça de Deus. Se em Romanos 1.19, Paulo declara que há um certo conhecimento de Deus em todo homem, parece contradizer-se com a idéia do ateísmo nesse verso 12. Entretanto, não há contradição alguma, pois o que Paulo quer destacar com a expressão "sem Deus no mundo", é a cegueira espiritual em que viviam os pagãos.