Comentário de J.W Scott: Gálatas 3:1-14

comentário bíblico da carta aos gálatas
II. DOUTRINÁRIA E ARGUMENTATIVA Gl 3.1-4.31

II.a Apelo à experiência e às Escrituras (Gl 3.1-9)

Paulo apela para a experiência dos crentes gálatas. Cristo crucificado havia sido vividamente apresentado a eles, e pela fé nEle é que tinham recebido o Espírito. Será que realmente pretendiam voltar para ordenanças carnais? Abraão foi justificado pela fé; e somente aqueles que vivem segundo o princípio da fé é que são seus filhos autênticos.

Insensatos (1); "destituídos de bom senso" (Moff.); a mesma palavra traduzida como "néscios" em Lc 24.25. Fascinou (1); esta palavra era frequentemente empregada pelos gregos para indicar o engano produzido pela mágica, algumas vezes com o "Olho mau". "Tão estranho era a cegueira espiritual deles que Paulo assume que alguém lançara um mau olhado contra eles; e pergunta quem era o mágico que assim fizera" (Beet). Exposto (1); "abertamente apresentado", "publicamente exibido". Aqueles que tinham ouvido o Evangelho com fé no coração (2-3) receberam bênçãos infinitamente mais preciosas que aqueles que estão debaixo da lei jamais poderão receber-receberam o Espírito Santo. Começar "no Espírito" e procurar madureza de experiência "na carne" é tornar-se estúpido e violar a lei do verdadeiro progresso espiritual. Sofrestes (4). Alguns preferem entender que esse verbo (em grego, pascho) se refira à experiência espiritual. Assim pensava Moffatt: "Tivestes toda aquela experiência em troca de nada?". Porém, parece que em nenhuma outra porção do Novo Testamento esse verbo aparece com esse sentido, e é mais provável que a referência aqui seja à perseguição suportada por eles. Em vão (4); "em troca de nada" (Moff.); uma palavra diferente da que é empregada em Gl 2.21. Vos concede (5); "supre", no dizer de certas versões. A sugestão aqui é de grande abundância. É Deus Quem faz isso; de conformidade com Gl 4.6, Ele envia o Espírito de Seu Filho aos corações de Seus filhos.

Notamos novamente a ênfase posta sobre a fé, o que leva o apóstolo a lançar mão da ilustração de Abraão como crente típico (6). Gn 15.6 ("o grande texto de Gênesis", conforme Lutero o descreveu) é citado não somente aqui, mas também em Rm 4.3; Tg 2.23. A Abraão foi prometida uma descendência tão inumerável como a areia das praias do mar. Quem compõe essa descendência? Aqueles que são da fé (7), "aqueles cujo ponto inicial, cujo princípio fundamental é a fé" (Lightfoot). Tendo a Escritura previsto... (8); uma notável personificação. Justificaria; literalmente, seria "está justificando". Esse é o método perpétuo e invariável de Deus. O Evangelho, segundo foi anunciado a Abraão, falava em bênção para todas as nações, e isso por intermédio da fé. A citação aqui feita é uma fusão de Gn 12.3 com Gn 18.18 O crente Abraão (9). A fé era a característica essencial da religião de Abraão, e é típica de toda verdadeira religião.

II.b A maldição e a bênção (Gl 3.10-14)

Aqueles que permanecem sob a lei, só podem esperar a maldição da lei. Cristo morreu a fim de redimir-nos dessa maldição, para que, em lugar da maldição, a bênção prometida a Abraão, a bênção do Espírito Santo prometido, pudesse ser estendida a todas as nações por meio da fé.

Aqueles que buscam a salvação pelas obras da lei (10) logo descobrem que estão tentando realizar um feito impossível. A maldição da lei desobedecida repousa sobre eles (Dt 27.26 é citado). Nunca foi tencionado que a bênção haveria de vir por meio da lei, mas sim, pela fé (11). É citada aqui uma das maiores afirmações do Antigo Testamento (Hc 2.4). Ver também Rm 1.17; Hb 10.38. A lei não procede de fé (12). A lei não começa sobre um princípio de fé; antes, porém, se opõe à fé. Resgatou (13); lit. "nos tirou para fora", o mesmo verbo que aparece em Gl 4.5. É sugerido aqui o custo infinito de nossa salvação. Fazendo-se (13); melhor, "tendo-se tornado". Maldição (13). Temos aqui uma forte declaração, que nos faz lembrar doutra declaração ainda mais forte, em 2Co 5.21. "Ele fez com que nossa condenação fosse a Sua própria. Tomou sobre Si não apenas a chamada de um homem, mas também nossa responsabilidade como homens pecaminosos. E nisso que repousa Sua obra como Redentor, pois é aqui que a medida, ou antes, a imensidão de Seu amor pode ser vista" (Denney, The Death of Christ, I. V. F., ed., pág. 92). Em nosso lugar (13). A preposição grega usada é hyper, "a nosso favor". Esse versículo, entretanto, parece exigir a idéia de substituição. Diz A. T. Robertson em sua New Testament Grammar, que somente a violência pode tirar daqui essa idéia. Jo 11.50 é outro versículo onde essa preposição traz em si a idéia de substituição; ver também 2Co 5.20 e Fm 1.13. Porque está escrito... (13). A citação é tirada de Dt 21.23. Cristo morreu a morte do pior malfeitor uma morte que inclui a mais evidente das maldições, tão intimamente Ele se identificou com o principal dos pecadores. Madeiro (13) "forca" (Moff). Para Cristo a cruz maldita para todas as nações a bênção prometida a Abraão (14). Essa bênção é a bênção da justificação, conforme demonstrado pelo contexto. Esse é um dos resultados da obra expiatória de Cristo; outro desses resultados é a presença do Espírito Santo no crente (cf. At 2.33). O Espírito prometido (14). Quanto a essa promessa ver passagens como Ez 36.27 e Jl 2.28.