Comentário de J.W Scott: Colossenses 1:24-29

comentário bíblico da carta aos colossenses
V. A TAREFA DO APÓSTOLO NA PROCLAMAÇÃO DESSA OBRA Cl 1.24-2.3

Paulo nunca deixou de maravilhar-se e regozijar-se da mordomia do evangelho que lhe foi confiado. Preencho o que resta das aflições de Cristo (24). Não existe nenhuma sugestão em qualquer escrito de Paulo de que os sofrimentos de Cristo sejam insuficientes para a redenção do mundo. Pelo contrário, a insistência é tão constantemente no outro sentido que qualquer interpretação deste verso deve, primeiro que tudo, admitir que nenhum sofrimento da parte do discípulo é necessário para suplementar a expiação pelo pecado. Qual é então a significação desta frase? Lightfoot faz uma útil distinção entre a "eficácia sacrificial" e a "utilidade ministerial" dos sofrimentos de Cristo. Considerando este último ponto de vista, há um sentido em que as aflições de Cristo são incompletas: "... as aflições de cada santo e mártir suplementam as aflições de Cristo. A igreja está construída por atos repetidos de abnegação praticados por indivíduos e gerações sucessivas". Uma interpretação pode também ser apresentada da maneira seguinte: Paulo neste contexto introduz a idéia da união mística do crente com Cristo. O apóstolo, desta forma, suporta as suas aflições em comunhão com Cristo, e estas ainda não são completas. Tais aflições não são suportadas por causa delas próprias, mas "por causa do seu corpo, que é a Igreja" (24). Para cumprir (25); isto é, para divulgar o evangelho (Cf. Rm 15.19).

As religiões mais prolíferas na idade helenística foram aquelas praticadas por seitas exclusivas, conhecidas como "religiões de mistério". O culto tinha duas partes. Havia o culto geral com o ensino de uma crença, aberto para todos sem distinção. Em seguida havia certos ritos e ensinos secretos, que eram reservados para os poucos escolhidos, os iniciados privilegiados. Deste elemento esotérico originou o nome de "religiões de mistério". Será que Paulo tinha em mente estas religiões quando escreveu sobre o "mistério"? (26). Consta que na época de Paulo a palavra era geralmente usada para significar um segredo de qualquer espécie, e que o simples uso da palavra não implica necessariamente uma alusão às religiões esotéricas. O que o apóstolo escreve nos vers. 26-28 sugere fortemente que ele tem a figura destas religiões na sua mente, mas que ele a usa intencionalmente de um modo contraditório. Há um "mistério que esteve oculto... mas agora foi manifesto" (26), porém aqui a idéia de uma sociedade secreta está inteiramente excluída. Pois os pregadores cristãos "pregam admoestando a todo homem, e ensinando a todo homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo". A palavra "perfeito" era usada nas religiões de mistério para descrever o homem plenamente iniciado e consequentemente "maduro" (gr. teleioi; cf. 1Co 2.6 e veja também a nota sobre Fp 3.15). O Cristianismo na sua plenitude é para "todo homem" (cf. Ef 1.9; Ef 3.3-9; Ef 6.19; veja também Cl 4.3).

E qual é este mistério? Lightfoot sugere a oferta da salvação ao mundo gentílico e interpreta "Cristo em vós" (27) como se referindo especificamente aos gentios. "Não Cristo, mas Cristo dado livremente aos gentios, é o "mistério" de que Paulo fala". E. F. Scott, por outro lado, acha duvidoso que este grande "mistério" consista em nada mais do que "a inauguração de uma missão gentílica". Ele verifica que nos vers. 25 e 26 o termo "mistério" está em aposição à "palavra de Deus", tanto que com toda probabilidade o "mistério" refere-se ao conteúdo do evangelho, antes que à sua propagação. "O Mistério de Deus, oculto desde toda a eternidade e agora revelado, é a permanência de Cristo no seu povo quer sejam judeus ou gentios". Mas, à luz de Ef 3, a primeira interpretação parece mais segura. Esta permanência de Cristo no seu povo é a "esperança da glória", a promessa da herança vindoura do crente.

Segundo a sua eficácia (29). Este trabalho do ministério de Paulo não se firma na sua própria força. Esta é uma declaração característica de Paulo no tocante à relação entre graça e liberdade. Cf. Fp 2.12-13.