Introdução Bíblica: Livro de Juízes

JUÍZES, LIVRO, INTRODUÇÃO, ESTUDO, ESBOÇO, TEOLOGIAEscritor: Samuel
Lugar da Escrita: Israel
Escrita Completada: c. 1100 AEC
Tempo Abrangido: c. 1450-c. 1120 AEC

O livro de Juizes é o de número 7 no cânon das Escrituras. EIS uma página da história de Israel cheia de ação, que mostra o povo ora envolvido com a religião demoníaca e as conseqüências desastrosas, ora arrependido e misericordiosamente libertado por Yehowah por meio de juízes divinamente nomeados. As poderosas obras de Otniel, Eúde, Sangar e os outros juízes que os seguiram inspiram fé. Conforme disse o escritor de Hebreus: “O tempo me faltaria se prosseguisse relatando sobre Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, . . . os quais, pela fé, derrotaram reinos, puseram em execução a justiça, . . . dum estado fraco foram feitos poderosos, tornaram-se valentes na guerra, desbarataram os exércitos de estrangeiros.” (Heb. 11:32-34) Para completar a lista dos 12 juízes fiéis desse período, mencionamos também Tola, Jair, Ibsã, Elom e Abdom. (Samuel geralmente não é contado entre os juízes.) Yehowah combatia pelos juízes, e Seu espírito os envolvia ao passo que executavam seus atos de bravura. Eles atribuíam todo o crédito e toda a glória a seu Deus.

Na Septuaginta, o livro é chamado de Kritaí, e na Bíblia hebraica é Sho·fetím, que, traduzido, é “Juízes”. Sho·fetím deriva-se do verbo sha·fát, que significa “julgar, vindicar, punir, governar”, o que expressa bem a função destes homens nomeados teocraticamente por “Deus, o Juiz de todos”. (Heb. 12:23) Yehowah suscitou esses homens em determinadas ocasiões para libertar seu povo do jugo estrangeiro.

Quando foi escrito o livro de Juízes? Duas expressões no livro nos ajudam a encontrar a resposta. A primeira é esta: “Mas os jebuseus continuam morando . . . em Jerusalém até o dia de hoje.” (Juí. 1:21) Visto que o Rei Davi capturou dos jebuseus “a fortaleza de Sião” no oitavo ano de seu reinado, ou seja, em 1070 AEC, o livro de Juízes deve ter sido escrito antes dessa data. (2 Sam. 5:4-7) A segunda expressão aparece quatro vezes: “Naqueles dias não havia rei em Israel.” (Juí. 17:6; 18:1; 19:1; 21:25) Por conseguinte, o relato foi assentado por escrito numa época em que havia “rei em Israel”, isto é, depois de Saul tornar-se o primeiro rei, em 1117 AEC. Portanto, podemos situar a escrita entre os anos 1117 e 1070 AEC.

Quem foi o escritor? Não resta dúvida de que foi um servo devotado de Deus. Só Samuel se distingue como principal defensor da adoração de Yehowah durante a época de transição de juízes para reis, e ele é também o primeiro na linhagem dos profetas fiéis. É, pois, lógico concluir que foi Samuel que escreveu a história dos juízes.

Que período abrange o livro de Juízes? Pode-se calcular isto tomando por base 1 Reis 6:1, que diz que Salomão começou a edificar a casa de Yehowah no quarto ano de seu reinado, que era também o “quadringentésimo octogésimo ano depois da saída dos filhos de Israel da terra do Egito”. (“Quadringentésimo octogésimo” é um número ordinal que representa 479 anos inteiros.) Os conhecidos períodos incluídos nos 479 anos são: 40 anos no ermo, sob a liderança de Moisés (Deut. 8:2), 40 anos do reinado de Saul (Atos 13:21), 40 anos do reinado de Davi (2 Sam. 5:4, 5) e os 3 primeiros anos inteiros do reinado de Salomão. Subtraindo este total de 123 anos dos 479 anos, de 1 Reis 6:1, obtemos o resultado de 356 anos, que abrangem o período entre a entrada de Israel em Canaã e o início do reinado de Saul. Os eventos relatados no livro de Juízes, que ocorreram em grande parte desde a morte de Josué até o tempo de Samuel, abrangem cerca de 330 anos deste período de 356 anos.

A autenticidade de Juízes é incontestável. Os judeus sempre o aceitaram como parte do cânon da Bíblia. Tanto os escritores das Escrituras Hebraicas como os das Gregas Cristãs fazem alusão a esse relato, como em Salmo 83:9-18; Isaías 9:4; 10:26 e Hebreus 11:32-34. Usando de toda a franqueza, o livro não esconde as faltas e as reincidências por parte de Israel, exaltando ao mesmo tempo a infinita benevolência de Deus. É Yehowah, e não um mero juiz humano, que é glorificado como Libertador de Israel.

Ademais, as descobertas arqueológicas confirmam a genuinidade de Juízes. Bem surpreendentes são as descobertas arqueológicas sobre a natureza da religião de Baal praticada pelos cananeus. Fora as referências na Bíblia, pouco se sabia sobre o baalismo até 1929, quando se escavou a antiga cidade cananéia de Ugarit (a moderna Ras Xamra, na costa síria, defronte da ponta nordeste da ilha de Chipre). Foi revelado aqui que a religião de Baal se caracterizava pelo materialismo, extremo nacionalismo e adoração do sexo. Cada cidade cananéia tinha evidentemente seu santuário de Baal, bem como capelas conhecidas como os altos. Dentro dessas capelas, havia provavelmente imagens de Baal, e, perto dos altares, do lado de fora, encontravam-se colunas de pedra — talvez símbolos fálicos de Baal. Detestáveis sacrifícios humanos manchavam de sangue estes santuários. Quando os israelitas ficaram contaminados com o baalismo, ofereceram da mesma forma seus filhos e suas filhas. (Jer. 32:35) Havia um poste sagrado que representava a mãe de Baal, Axerá. A deusa da fertilidade, Astorete, esposa de Baal, era adorada por meio de licenciosos ritos sexuais, sendo mantidos tanto homens como mulheres como “consagrados” prostitutos do templo. Não é de admirar que Jeová ordenasse o extermínio do baalismo e de seus aderentes bestiais. “Teu olho não deve ter dó deles; e não deves servir aos seus deuses.” — Deut. 7:16.